Saúde e Bem Estar

Jovem passou três anos morando na Torre de Londres com outras 150 pessoas

Um dia, em 2021, Megan Clawson estava voltando para casa depois de uma noite de festas quando se inspirou para gravar um vídeo em seu celular.

“Ei, você pode imaginar que Henrique VIII costumava voltar bebaço para isso, e eu voltei bebaça para isso?”, ela disse para a câmera, com os olhos arregalados, rindo. Então, Clawson virou seu celular para mostrar o que “isso” era: as imponentes torres de pedra da Torre de Londres, banhadas por uma escuridão assustadora.

Mais tarde, ela postou o vídeo em seu TikTok: “Andar sóbrio na calçada de paralelepípedos já é bastante difícil; quando você está bêbado, é um esporte olímpico”, escreveu Clawson.

A Torre de Londres está localizada às margens do rio Tâmisa, em Londres. Outrora um palácio real do infame rei Henrique VIII, a fortaleza também funcionou como prisão e acolheu 900 anos de história britânica, do terrível e dramático ao romântico.

Hoje, é uma atração turística e a maioria das pessoas só atravessa o fosso sem água e o portão em arco durante o dia – bilhetes na mão, a caminho para ver as Joias da Coroa ou os famosos corvos da Torre.

Mas cerca de 150 londrinos vivem na Torre. E no meio de 2020, Clawson se tornou uma dessas pessoas.

De mudança para um marco de Londres

O pai de Clawson era Yeoman Warder ou “Beefeater” – um dos guardiões cerimoniais da Torre de Londres. Ele se mudou para a Torre há vários anos e quando Clawson começou a estudar no Kings College London, ela o visitava regularmente – muitas vezes se divertindo, com a roupa lavada na mão e ficando para tomar uma xícara de chá.

Então, após a pandemia de Covid-19, Clawson decidiu ir morar permanentemente com o pai. Quando ela puxou uma mala pela calçada de paralelepípedos pela primeira vez, pronta para transformar a Torre em seu lar, Clawson não tinha certeza de como se sentir.

Sua experiência universitária foi prejudicada pela pandemia. Tudo parecia assustador e miserável. Ela não sabia o que o futuro reservava. E embora Clawson fosse grata pelo amor e apoio, morar com o pai aos 20 anos nunca esteve em seus planos.

“Eu queria morar com meus amigos e poder sair no meio da noite e voltar de madrugada”, disse ela à CNN.

Em vez disso, Londres estava quieta. Todos os pubs, boates, restaurantes e museus foram fechados. A Torre de Londres, geralmente repleta de turistas, estava fechada para todos, menos para seus habitantes.

A Torre de Londres é um dos marcos mais famosos da capital do Reino Unido / Rudy Sulgan/The Image Bank RF/Getty Images/CNNi

Os primeiros dias de Clawson na Torre foram definidos por emoções complicadas. “Foi incrível e emocionante. Mas ainda era sustentada por esta ideia de ‘Oh, é porque eu precisava de mais ajuda numa crise global’, mais do que apenas ‘Oh, esta é a minha nova aventura de conto de fadas’”.

Mas, lenta e seguramente, Clawson se acostumou com a vida na Torre, e Londres gradualmente acordou de sua hibernação da Covid.

A vida na torre

Clawson fez seu próprio quarto na Torre, colocando fotos e pôsteres. A casa onde Clawson morava com seu pai – e sua cadela Ethel – datava do século 13.

Havia certas peculiaridades – pense em janelas com flechas e quatro lances de escadas íngremes – e certas regras e regulamentos quando se tratava de decoração, mas “era assim que você decoraria qualquer casa de aluguel, na verdade”, diz Clawson.

Logo no início, Clawson percebeu que as persianas de seu quarto não funcionavam, então ela as retirou: “Estava tudo bem porque naquela janela não havia ninguém passando por ali durante a pandemia porque a passarela estava fechada”, explica Clawson.

“Só quando reabriram sem me avisar é que percebi que precisava de uma solução muito, muito rápida para o meu problema sem cortinas”.

Clawson acordou uma manhã com um bando de turistas espiando seu quarto. Alguns tiravam fotos como se ela fizesse parte da atração de visitantes.

Em pânico, Clawson olhou ao redor do quarto, procurando algo que pudesse usar como cortina improvisada. A única opção viável era uma velha toalha de praia do One Direction, retratando os rostos sorridentes de Harry Styles e companhia.

“Foi aí que a toalha do One Direction entrou e ficou por muito tempo”, diz Clawson, rindo. “Era para ser uma solução temporária que durou um tempo e se tornou uma piada depois disso”.

Clawson finalmente tirou a toalha quando percebeu que isso tornava seu quarto mais, e não menos, perceptível.

Eu costumava ouvir as pessoas dizendo: ‘Oh meu Deus, isso é um pôster do One Direction na Torre de Londres?’

Megan Clawson, ex-residente da Torre de Londres

A casa de Clawson tinha uma varanda com uma vista pitoresca – o lugar perfeito para passar uma tarde, só que às vezes atrapalhado por crianças em viagens escolares, que notavam Clawson e começavam a gritar para chamar sua atenção.

Além dos turistas intrometidos, havia alguns outros elementos logísticos para viver na Torre de Londres.

Clawson percebeu que precisava programar seu retorno noturno à Torre antes ou depois da Cerimônia das Chaves – uma tradição de 700 anos que acontece todas as noites às 21h30, fazendo parte do cerimonial de “travamento” da Torre durante a noite – caso contrário, ela ficaria trancada do lado de fora por 30 minutos.

Clawson também descobriu as melhores rotas ao redor da Torre para evitar “ficar presa atrás de muitos turistas”.

E ela percebeu que digitar “Torre de Londres” em aplicativos de entrega de comida faria com que sua pizza nunca aparecesse.

Clawson rapidamente passou a amar a vida na Torre de Londres / Megan Clawson/Arquivo Pessoal

Claro, ela morava em um dos pontos turísticos mais famosos de Londres, mas os entregadores nunca pareciam conseguir encontrá-lo – ou simplesmente não acreditavam que alguém morasse lá. Clawson começou a pedir as entregas usando o endereço do Starbucks do outro lado da rua.

Clawson também começou a receber amigos regularmente na Torre. Os convidados podiam ficar na casa e Clawson poderia organizar festas – ela geralmente optava pelo pub dos residentes da Torre, chamado The Keys, como local.

O The Keys tem duas áreas – uma é mais formal e exige traje black tie. O outro lado é “como qualquer outro pub de vilarejo”, como diz Clawson. Pense em um ambiente aconchegante e com muita cerveja, mas aberto apenas aos moradores da Torre e seus amigos e familiares.

“Foi realmente tranquilo”, diz Clawson.

Não é de surpreender que os colegas de faculdade de Clawson adorassem visitá-la. “Exceto que, obviamente, eu teria que dizer a eles: ‘Ei, se você não sair até meia-noite, ficará trancado aqui até de manhã’”.

A atmosfera comunitária da Torre rapidamente se tornou uma das partes favoritas de Clawson na vida lá. Ela cresceu em uma pequena cidade em Lincolnshire, a nordeste de Londres, e apreciava como a Torre de Londres parecia “uma vila” no meio da movimentada capital.

A Torre abrange 12 acres (48.562,3 m²) da cidade, um labirinto de ruas de paralelepípedos e imponentes edifícios de pedra, com arranha-céus de Londres à distância, aparecendo por trás dos prédios medievais da Torre.

Os residentes se reuniam para beber e conversar à noite e para desfrutar de eventos como a festa anual de Halloween. Clawson sempre se sentiu confortável vagando pela Torre – e tentou não deixar que rumores de potenciais habitantes fantasmagóricos passassem por sua mente.

“Alguns dias você pode andar por aí e se sentir completamente bem e à vontade. E há outros momentos em que você sente que, quando anda, alguém está te observando”, diz ela.

Eu acredito no sobrenatural e no paranormal e coisas assim. E acho que se há um lugar onde houvesse um fantasma, com certeza seria na Torre

Megan Clawson, ex-residente da Torre de Londres

Compartilhando histórias

Em 2021, Clawson concluiu seu curso de literatura inglesa. Com mais tempo de sobra, ela começou a compartilhar mais histórias da Torre de Londres por meio de seu TikTok e Instagram. “À medida que mais e mais pessoas se interessavam, mais diferentes tipos de vídeos eu fazia”, diz ela.

Desde resumir as histórias de fantasmas da Torre em pequenos vídeos até passeios pelas casas e aulas divertidas de história, os vídeos de Clawson fornecem uma visão fascinante de um lado muitas vezes invisível da Torre.

Ela também responderia diretamente aos pedidos dos usuários – se alguém lhe fizesse uma pergunta específica sobre a vida na Torre, Clawson responderia em vídeo. “Era basicamente ‘O que eu quero compartilhar com o mundo esta semana? O que eu quero dizer às pessoas? O que eu quero que as pessoas saibam?’”, diz ela.

Nessa época, Clawson também começou a anotar ideias para um romance – um romance moderno sobre uma mulher que morava na Torre de Londres.

Aqui está Clawson no dia de sua formatura na faculdade com seu pai Yeoman Warder / Megan Clawson/Arquivo Pessoal

A história não era autobiográfica, mas havia aspectos, além do cenário, retirados diretamente de sua vida. Clawson decidiu que sua personagem principal se apaixonaria por um Guarda Real – um soldado militar britânico destacado em uma das residências reais. O namorado dela também é um Guarda Real que, por coincidência, trabalha frequentemente na Torre de Londres.

“Eu o conheci online, mas muito do seu trabalho era dentro da Torre”, explica Clawson. Houve uma conexão entre os dois imediatamente. “Foi uma conversa meio engraçada do tipo: ‘Ei, você está na minha casa’”.

Clawson inseriu todas essas experiências em seu romance, descobrindo muitos locais atmosféricos para escrever dentro e ao redor de sua casa histórica. “Eu escrevia no meu quarto”, lembra ela. “E há cafés com vista para a Torre lá fora. Então, muitas vezes eu ia sentar lá e observar de fora”.

O romance de Clawson, “Falling Hard for the Royal Guard”, foi publicado na primavera de 2023 no Reino Unido e nos EUA pela Harper Collins. Um segundo romance, “Love at First Knight” – que também tem como cenário a Torre de Londres – está sendo trabalhado e com publicação prevista para o próximo ano.

Dizendo adeus à Torre

Neste verão, o pai de Clawson deixou o emprego como Yeoman Warder. Ele disse à filha que sentia como se tivesse alcançado “o auge de sua carreira” e que o falecimento rainha Elizabeth II foi o fim de uma era e o momento certo para seguir em frente.

“Ele trabalhou para a rainha durante 30 anos no exército e depois foi capaz de trabalhar para ela nos seus momentos finais”, diz Clawson. Antes de sair, o pai de Clawson trabalhou no serviço oficial da rainha, no funeral da rainha e na coroação do rei Charles III.

Em julho de 2023, Clawson e seu pai empacotaram suas coisas na casa da Torre de Londres e se mudaram para sempre. Desde então, Clawson diz que a adaptação à vida fora da Torre “tem sido muito difícil”.

Ela sente falta da emoção de acordar diante de torres de pedra que testemunharam anos de história, mas acima de tudo, sente falta dos outros moradores. “Eles se tornaram minha família e meus amigos”, diz ela. “Eles realmente me levaram ao lugar que estou hoje”.

Ela frequentemente reflete sobre “como todas as pessoas que viviam na Torre tiveram vidas muito semelhantes, mas incrivelmente diferentes, para chegar a esse ponto”. Foram suas interações com os outros residentes que ensinaram a Clawson que “todo mundo tem uma história para contar”.

Neste momento, Clawson está descobrindo o que vem a seguir. Ela planeja continuar compartilhando histórias da Torre em suas redes sociais, ao mesmo tempo que expande para destacar outros marcos do Reino Unido e destacar outros contos da história britânica.

“Eu adoraria adotar essa abordagem diferente e construir algo além do que consegui vivendo na Torre – mostrando aos meus seguidores e ao mundo que essas são outras coisas incríveis que existem na Grã-Bretanha e que poucas pessoas conhecem sobre”, diz.

Ela também deseja continuar escrevendo romances e adoraria transformar um de seus livros em filme um dia, criando uma “rom-com britânica completamente repleta de toda essa história britânica” com a Torre como cenário espetacular.

Aconteça o que acontecer a seguir, Clawson diz que sempre será grata pelos três anos que passou na Torre de Londres.

“Sempre posso dizer que morei lá. E obviamente, com o meu livro e tudo mais, está escrito em preto e branco que esta foi a minha vida, e este foi este período de tempo e está lá no papel, que poderei compartilhar com meus filhos e meus netos”.

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