Arte e Cultura

Uma entrevista com Rubén Darío Gómez Prada – Arte de Toda Gente

Radicado nos EUA, onde atua em um programa de bandas da Southern Il­li­nois Uni­ver­sity-Edwards­ville, o maestro e compositor colombiano participa, de 20 a 27/05, de uma série de atividades do do Pro­jeto de Ex­tensão Sis­tema Pe­da­gó­gico de Apoio às Bandas de Mú­sica, na Escola de Música da UFRJ.

Entre os dias 20 e 27 de maio, como parte do Pro­jeto de Ex­tensão Sis­tema Pe­da­gó­gico de Apoio às Bandas de Mú­sica, a Es­cola de Mú­sica da UFRJ re­ce­berá o ma­estro e com­po­sitor co­lom­biano Rubén Darío Gómez Prada. Di­retor do pro­grama de bandas da Southern Il­li­nois Uni­ver­sity-Edwards­ville (EUA), o maestro cumprirá na Escola uma in­tensa agenda, que inclui aulas de re­gência, uma ofi­cina de com­po­sição, ensaios e um con­certo, com obras do re­per­tório con­tem­po­râneo para banda sinfô­nica para banda sinfô­nica, e no qual regerá a Or­questra de So­pros da UFRJ, no Salão Le­o­poldo Mi­guez (veja aqui detalhes sobre essas atividades: Nesta entrevista, dada aos também maestros e professores Marcelo Jardim (coordenador dos projetos da parceria Arte de Toda Gente, entre a Funarte e a UFRJ) e Gabriel Dellatorre (coordenador pedagógico deste projeto de extensão) sobre sua trajetória e expectativas em relação às atividades de que participará na Escola de Música.

Mar­celo Jardim: Ru­bén, nos co­nhe­cemos há pra­ti­ca­mente duas dé­cadas e digo que é um imenso prazer re­cebê-lo como pro­fessor con­vi­dado em nossa Es­cola de Mú­sica da UFRJ. Conte-nos um pouco da sua tra­je­tória com o tra­balho com as bandas, desde a Colômbia até os dias atuais.

Rubén Darío Gómes: O prazer é meu também, Mar­celo. Meu pri­meiro ins­tru­mento foi a cla­ri­neta, quando co­mecei a tocar na banda da minha uni­ver­si­dade, em Bu­ca­ra­manga, Colômbia. Em 1998 in­gressei no Mi­nis­tério da Cul­tura como con­se­lheiro para as ati­vi­dades vin­cu­ladas às bandas e atuei nas áreas de te­oria mu­sical e re­gência. Em 2003 co­mecei a es­crever obras es­pe­ci­fi­ca­mente para bandas sinfô­nicas e desde então não parei de compor para as di­versas for­ma­ções das bandas. Entre 2003 e 2015 atuei na re­gência de di­versas bandas na minha ci­dade, in­cluindo a banda da minha pró­pria es­cola de mú­sica (uma banda in­fan­to­ju­venil) e a banda da uni­ver­si­dade onde eu tra­ba­lhava, for­mada ba­si­ca­mente por es­tu­dantes de mú­sica. Em 2015 fui para os Es­tados Unidos, onde fixei re­si­dência, fiz mes­trado e dou­to­rado em re­gência de banda, além de me de­dicar mais ao es­tudo de com­po­sição. Foi uma grande mu­dança em minha vida, e desde 2020 sou o Band Di­rector, co­or­de­nador das ati­vi­dades de bandas, da Southern Il­li­nois Uni­ver­sity-Edwards­ville. Mi­nhas fun­ções na uni­ver­si­dade in­cluem a re­gência e co­or­de­nação mu­sical da wind en­semble (or­questra de so­pros) e das aulas de re­gência para alunos de gra­du­ação e pós-gra­du­ação. Também sou re­gente as­sis­tente da Banda Mu­ni­cipal de Edwards­ville e re­gente as­so­ciado da Saint Louis Wind Symphony.

MJ: O que você pla­nejou para as ati­vi­dades que irá de­sen­volver aqui, com nossos es­tu­dantes da EM/UFRJ?

RDG: Temos vá­rias ações para esta se­mana. Para a Or­questra de So­pros da UFRJ, que é um grupo de alunos avan­çados e com ex­pe­ri­ência na prá­tica de banda sinfô­nica, pre­tendo fazer uma pro­gra­mação com obras de com­po­si­tores dos Es­tados Unidos e al­gumas de mi­nhas com­po­si­ções. Con­forme con­ver­samos, em nossa troca de in­for­mação que an­te­cede a esta pro­gra­mação, minha ideia foi a de expor os alunos ao con­tato de obras de com­po­si­tores que podem ser des­co­nhe­cidos para eles, como Julie Gi­roux ou David Mas­lanka, mas que são de grande im­por­tância para o uni­verso das bandas atuais, bem como a ofe­recer a todos os es­tu­dantes da banda a opor­tu­ni­dade em tra­ba­lhar com um com­po­sitor-re­gente, o que é uma ex­pe­ri­ência sempre gra­ti­fi­cante para ambos os lados.

Para os alunos de re­gência, pla­nejei dois workshops de re­gência de banda, um para os alunos de re­gência de banda, di­re­ta­mente, e outro, aberto a todos os es­tu­dantes com in­te­resse em re­gência, de uma forma geral. Nestes workshops, po­de­remos tra­ba­lhar al­guns as­pectos de téc­nica de re­gência, in­ter­pre­tação e es­tudo da par­ti­tura. Pre­tendo também tra­ba­lhar com al­gumas obras pa­drão do re­per­tório da banda uni­versal que são de es­tudo obri­ga­tório para todos os re­gentes.

Ha­verá uma outra ati­vi­dade ainda, em for­mato de pa­lestra, sobre re­per­tório para bandas de com­po­si­tores la­tino-ame­ri­canos, no qual vou abordar também o tema sobre com­po­sição para bandas. Nesta pa­lestra apre­sen­ta­remos obras de com­po­si­tores his­to­ri­ca­mente im­por­tantes, bem como al­gumas obras mais re­centes de com­po­si­tores mais jo­vens.

Ga­briel Del­la­torre: Rubén, eu atuo bas­tante com grupos jo­vens, com edição de par­ti­turas e per­cebo ainda um longo ca­minho no Brasil para uma me­lhor com­pre­ensão sobre a questão do ni­ve­la­mento téc­nico para as com­po­si­ções. O que você po­deria falar sobre este ponto, na or­ga­ni­zação pe­da­gó­gica por ní­veis de di­fi­cul­dade, na es­crita para as bandas?

RDG: Ga­briel, ex­ce­lente ponto e para o qual pre­ci­samos dar toda a atenção. Quando o re­per­tório é or­ga­ni­zado por ní­veis de di­fi­cul­dade, toda a or­ga­ni­zação e pla­ne­ja­mento do tra­balho fica mais sis­te­má­tico e o pro­gresso dos alunos pode ter um me­lhor acom­pa­nha­mento. O re­per­tório, quando es­crito le­vando-se em con­si­de­ração o nível téc­nico a que se pre­tende, per­mite ex­plorar o po­ten­cial in­ter­pre­ta­tivo dos alunos porque quando as obras estão ao nível dos alunos e os as­pectos téc­nicos podem ser ven­cidos com al­guma fa­ci­li­dade, o re­gente ou o edu­cador mu­sical pode ex­plorar as­pectos in­ter­pre­ta­tivos ou téc­nicos que se­riam im­pos­sí­veis de se al­cançar com obras que ul­tra­passem as ca­pa­ci­dades téc­nicas mu­si­cais dos es­tu­dantes.

Outra van­tagem do re­per­tório clas­si­fi­cado por ní­veis téc­nicos é que os re­gentes e ges­tores de pro­jetos podem en­co­mendar obras de acordo com as ha­bi­li­dades mu­si­cais de seus alunos, tendo a cer­teza de que as obras po­derão ser exe­cu­tadas de forma ade­quada. Isso fa­vo­rece o cres­ci­mento do re­per­tório e quando as obras são efe­tivas, sig­ni­fica também que ou­tras bandas podem pro­gramá-las, fa­vo­re­cendo a cir­cu­lação da mú­sica deste com­po­sitor.

GD: Foi uma ex­pe­ri­ência muito gra­ti­fi­cante ter sido o pre­pa­rador do grupo para este con­certo, pois tive um con­tato di­reto com duas de tuas obras, La­ti­no­a­me­rica Des­pi­erta e Montaña Má­gica, e vou poder te acom­pa­nhar no pros­se­gui­mento a esta pre­pa­ração ini­cial. Gos­taria que você fa­lasse um poco sobre elas.

Fico feliz que tenha gos­tado de tra­ba­lhar as duas obras com o grupo, Ga­briel. La­ti­no­a­me­rica Des­pi­erta foi es­crita em 2020 para co­me­morar o 50º ani­ver­sário da banda Boston Winds, se­diada na ci­dade de Boston, nos Es­tados Unidos. A obra é ba­seada nos mo­vi­mentos de pro­testo so­cial que ocor­reram em di­versos países da Amé­rica La­tina, os quais so­freram por anos com go­vernos que pro­curam apenas o be­ne­fício de pe­quenos grupos e en­ri­que­ci­mento pes­soal em de­tri­mento de en­con­trarem so­lu­ções para os pro­blemas do co­ti­diano da po­pu­lação, o que re­sultou em po­breza e so­fri­mento.

Di­ante desta si­tu­ação, o povo pro­curou sempre se ma­ni­festar e, em al­guns casos, ‘acordou’ e con­se­guiu es­ta­be­lecer go­vernos mais justos e so­ci­al­mente res­pon­sá­veis, e que não se po­si­ci­onam so­mente do lado dos po­de­rosos. A Montaña Má­gica (A Mon­tanha Má­gica) é ins­pi­rado em um lugar muito bo­nito, com uma im­po­nente mon­tanha, lo­ca­li­zado no mu­ni­cípio de Santa Elena, no De­par­ta­mento de An­ti­o­quia e muito pró­ximo da ci­dade de Me­dellín. Co­nheci esse lugar em 2006 e ali en­con­trei tran­qui­li­dade, paz e… si­lêncio. De­pois de passar al­guns dias lá, me senti im­pe­lido a es­crever sobre a ex­pe­ri­ência que tive e de­cidi que de­veria es­crever uma obra que pu­desse re­tratá-la mu­si­cal­mente.

MJ: Rubén, você es­tará co­nosco na Es­cola de Mú­sica da UFRJ, que é a mais an­tiga ins­ti­tuição ofi­cial de mú­sica fun­dada no Brasil, e que formou vá­rias ge­ra­ções de mú­sicos. O curso de re­gência de banda que temos é re­la­ti­va­mente novo, mas foi o pri­meiro curso de ba­cha­re­lado em re­gência de banda em uma uni­ver­si­dade fe­deral no Brasil, e em um país com mi­lhares de bandas de mú­sica e bandas sinfô­nicas. Qual con­selho você daria aos es­tu­dantes de re­gência e novos re­gentes que pla­nejam se tornar re­gentes de bandas ou or­ques­tras?

RDG: O prin­cipal con­selho que é: pre­pare-se muito bem para cada mo­mento que es­tiver a frente de uma banda, or­questra ou coro. Os mú­sicos com os quais atu­amos e a mú­sica que di­ri­gimos me­recem todo nosso res­peito e a forma de de­mons­trarmos isso é com a nossa me­lhor pre­pa­ração. E a pre­pa­ração não deve ser so­mente na parte téc­nica da re­gência (ges­tual) mas prin­ci­pal­mente nos as­pectos in­te­lec­tuais. Es­tudar a par­ti­tura, co­nhecer a his­tória da mú­sica, a or­ques­tração, os prin­cí­pios da afi­nação, o equi­lí­brio, o trei­na­mento au­di­tivo para que se possa ouvir muito bem o que vem do grupo mu­sical e poder ofe­recer ajuda em todos os as­pectos da mú­sica, tudo isso faz parte da pre­pa­ração in­te­lec­tual do re­gente.

Pro­cure co­nhecer e se fa­mi­li­a­rizar sobre es­tilos mu­si­cais di­versos, para que possa co­nhecer e re­co­nhecer que tipo de es­tilo tem a mú­sica que irá ser pre­pa­rada e como atingir o me­lhor re­sul­tado desse es­tilo na prá­tica de con­junto. As mú­sicas não pre­cisam soar iguais, pois se di­ferem em forma, es­tru­tura e es­tilo e o re­gente que se fa­mi­li­a­riza com o maior nú­mero pos­sível de es­tilos mu­si­cais terá maior ca­pa­ci­dade em de­sen­volver tra­ba­lhos mais di­re­ci­o­nados na pre­pa­ração de cada obra mu­sical.

Ad­quira e de­sen­volva uma boa ba­gagem de fer­ra­mentas pe­da­gó­gicas. Este as­pecto da pre­pa­ração do re­gente pre­cisa ser ob­ser­vado com cui­dado e per­se­ve­rança, pois isso não é con­quis­tado da noite para o dia, e é algo que se con­segue com o tempo, através de ex­pe­ri­men­tação, pes­quisa e con­tato com co­legas, pro­fes­sores e es­pe­ci­a­listas. De­vemos ter fer­ra­mentas pe­da­gó­gicas pre­cisas para cada si­tu­ação, para cada tipo de for­mação mu­sical e muitas vezes, es­pe­ci­fi­ca­mente, para cada grupo mu­sical. Vá­rios são os fa­tores que nos obrigam a dispor de di­fe­rentes abor­da­gens pe­da­gó­gicas, tais como idade média do grupo, nível me­diano de pre­pa­ração mu­sical, ta­manho e tipo de for­mação, ins­tru­mental etc.

Es­teja pre­pa­rado para todos os di­fe­rentes con­textos e si­tu­a­ções (fa­vo­rá­veis ou des­fa­vo­rá­veis), quando for atuar como re­gente, seja em uma es­cola ou em um grupo avan­çado. É sempre muito di­fícil para os re­gentes pre­verem o que pode ocorrer em uma pre­pa­ração mu­sical. Por fim, uma dica va­liosa: fale sempre com os mú­sicos em uma lin­guagem po­si­tiva. Mesmo quando as coisas apa­ren­te­mente não pa­recem ir bem, há sempre uma ma­neira po­si­tiva de lidar com cada si­tu­ação. Ne­nhum mú­sico quer ser tra­tado de forma des­res­pei­tosa e se sentir des­qua­li­fi­cado. Assim, pense antes de tomar uma ati­tude que pode pro­vocar uma rup­tura no tra­balho em equipe, e pro­cure sempre en­con­trar uma forma cri­a­tiva e po­si­tiva de dizer o que é ne­ces­sário.

Fonte: Escola de Música da UFRJ

Foto de divulgação

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